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Irene Dulce da Palma Arez Rolo, nasceu em Tavira, no dia 13 de junho de 1893, dia de Santo António. Filha única, viveu sempre com os seus pais, pessoas abastadas e reconhecidas na comunidade Tavirense. O seu pai era Capitão do Exército e a sua mãe sempre se dedicou ao cuidado do lar e da família. Na idade própria dos enamoramentos apaixonou-se pelo jovem Túlio, oriundo da Beira Alta, e que na altura prestava serviço militar na cidade de Tavira. Este namoro, bem aceite no seio da família, logo deu origem a juras eternas de amor, celebrado em cada palavra cuidadosamente escrita nas cartas que trocavam. Não tardaram os planos para o casamento e a preparação do enxoval. Perspetiva-se uma união para a vida, como aliás era apanágio da época.
Um dia chegou pelo correio uma carta que viria a mudar o rumo desta história. As notícias que chegavam davam conta que Túlio se havia enamorado de uma rapariga sua conterrânea, com a qual havia mantido contato intimo, como a própria jovem relatara na malfadada carta. Aos olhos da sociedade da época tal acontecimento colocava em causa os tradicionais e bons costumes e Irene, mergulhada numa profunda tristeza, decide romper com o relacionamento. Inconformado com a perspetiva de não poder concretizar a sua paixão avassaladora, Túlio num ato pouco refletido, pegou numa pistola e sem dó nem piedade assassinou a sua antiga namorada, suicidando-se de seguida.
Irene, ao saber da trágica notícia entrou num profundo e doloroso estado de tristeza e isolou-se na sua moradia. Nunca mais equacionou encontrar um novo o amor e constituir família. Durante muitos anos viveu entre a sua residência na Rua da Liberdade e a sua quinta na Horta do Carmo, optando pelo campo nas temporadas de maior calor. Com a Revolução do 25 de abril, a sua casa na cidade foi ocupada e vandalizada, o que determinou que Irene passasse a residir apenas na Horta do Carmo, na companhia dos seus inúmeros gatos e dos seus caseiros que se ocupavam da quinta. Da janela da sua sala avistava a majestosa alameda que dava acesso à propriedade e que servia de abrigo para muitos indigentes, aos quais prestava apoio. Neste ambiente nasceu uma crescente vontade de ajudar o próximo e a decisão de doar os seus bens para uma causa social.
Com o impulso de uma empreendedora com provas dadas na área da solidariedade no Alentejo, que em boa hora se cruzou na vida de Irene, estavam reunidas as condições para a concretização de um sonho.
Assim, no ano de 1981, foi celebrado o testamento de Irene que viria a dar corpo à obra da Fundação Irene Rolo. Entre reuniões com diversas entidades, nomeadamente a Segurança Social, o apoio às pessoas com deficiência afigurou-se como uma necessidade no concelho de Tavira, à qual importava privilegiar e logo Irene se apaixonou por essa causa. A paixão então vivida parecia novamente despertar na vida de Irene, sob a forma de solidariedade.
Nos anos que se seguiram acompanhou de perto todos os trabalhos preparatórios para a criação da ambicionada Fundação.
Em abril de 1982 foi realizada a escritura pública para a criação da Fundação Irene Rolo e nesse mesmo ano foi lançada a primeira pedra do edifício, acontecimento vivido com grande intensidade pela doadora.
A 31 de Agosto de 1984 Irene faleceu. Conforme seu pedido, foi a enterrar com muitas das cartas remetidas por Túlio, o seu grande amor. O amor vence tudo e a solidariedade é uma forma de amor. Um amor que Irene um dia desacreditou, mas que veio a redescobrir quase no final da sua vida. E é responsabilidade de todos nós perpetuar esse amor, que se materializa todos os dias no respeito pela diversidade humana e no respeito pelos direitos das pessoas com deficiência.
Texto elaborado com base nos relatos de Maria do Castelo Braga e Alice Baião.
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